
Vivemos numa sociedade que já passou por inúmeras mudanças de padrões, mas que mesmo assim, ainda cultiva conceitos muito antigos.
As relações amorosas, assim como outros conceitos sociais (a exemplo a própria noção de sexualidade dos gêneros), mudaram muito ao longo dos anos. No período colonial, onde a família era mantida pelo patriarca, as relações entre homem e mulher eram completamente voltadas para a procriação e eram estabelecidas por negociação, onde a mulher era um bem de troca que deveria casar com quem o pai considerasse o genro ideal (baseando-se na condição financeira do candidato). Não eram permitidas as praticas voltadas ao prazer do casal e muito menos para a mulher, que era vista como santa. Por esse motivo era comum entre os homens a prática de relações extraconjugais (normalmente com escravas ou prostitutas) e assim a composição de outras famílias bastardas.
Com o passar do tempo, essas relações foram modificando-se. O romance começou a ser um ponto em consideração para os casais, mas ainda assim não era o suficiente, já que ainda tratava-se de negociações entre os pais dos jovens. Nesse período as fugas eram comuns, e a alimentação dos romances era mantida pelos livros e belos contos que prendiam as jovens sonhadoras que desejavam lindos casamentos com seus príncipes encantados.
Como não sonhar lendo Romeu e Julieta, Hamlet e outros romances como os de Machado de Assis (Helena, Dom Casmurro e outros).
Pouco se pensava na felicidade e nos desejos do casal apaixonado. O casamento era o futuro da mulher, que deveria ter um marido de sucesso nos negócios.
Partindo para o lado filosófico, uma visão interessante é a do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Em seu livro “Assim Falou Zaratustra” ele coloca uma visão onde defende a procriação e a “criação” de um super-homem (Übermensch). Para ele, antes de tudo, o homem precisa construir a si próprio em corpo e alma e, só depois terá condições de desejar um filho. Em um trecho ele coloca: “Não deves só reproduzir-se, mas exceder-te! Sirva-se para isso o jardim do matrimônio!” Podemos notar que, para ele, os casais devem unir-se com o único sentido de criar o superior. Não basta só possuir o sentimento ou o desejo sexual pelo outro, é necessário que ambos possuam a vontade maior de criar o ser superior.
Na atualidade notamos que o conceito não só do matrimônio, mas das relações como um todo, estão completamente diferentes. As relações tornaram-se líquidas, como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro “Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas”. As pessoas buscam prazeres imediatos e não suportam os contratempos que existem nas relações (todos nós sabemos dessa existência). O amor é considerado perigoso, pois “prende” a pessoa em uma relação, privando-a de experiências “diferentes” e causando a perca de tempo (como pensam algumas pessoas). As relações tornaram-se mais uma vez negócios, onde uma análise rigorosa de lucros e prejuízos precisa ser feita com bastante cautela antes que se mergulhe no “poço sem fundo” que é considerado o amor. Ao primeiro indício de crise na relação, a probabilidade do laço ser desfeito é enorme, e notamos isso quando analisamos a duração de namoros e casamentos atuais.
Apesar de tudo isso, ainda existem pessoas que acreditam em tal sentimento e não tem medo de mergulhar nesse poço, que na verdade, não é um poço sem fundo, e sim um lindo mar onde perder o juízo não é nada perigoso.
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