Calcei as sandálias vermelhas, salto quinze, pura luxúria. Me vesti meticulosamente e já imaginando como, algum tempo depois, estaria vestida apenas com o suor na pele. O plano dava certo e em pouco menos de vinte minutos você passaria aqui para sairmos rumo a qualquer lugar. Exalando pecado, sei apenas que te quero. É um fato estampado na minha cara e eu já nem ligo mais. Tudo segue como o combinado: você só sabe que vamos sair.

Ao chegar, te recebo com o beijo de sempre, aquele que deixa metade do meu batom nos teus lábios. E com o meu sorriso sacana, te dou meu poema sujo, escrachado. Te conto ao pé do ouvido o meu plano e você só sorri de volta. Meus versos revelam os céus febris do teu olhar cheio de delícias imaginadas, repassadas mentalmente até entrarem em prática. Estamos em sintonia e lá vamos nós.

Acabamos no cliché do quarto de motel. Pouco importa. E na loucura, enquanto suas mãos fortes-sensíveis na medida certa desenham o contorno do meu corpo e a letra de uma música qualquer ecoa ao fundo, nossas rimas se fundem em apenas um soneto. Dois quartetos e dois tercetos, somos nós. E no estilo ultra-romântico de Camões, ardemos no fogo do nosso amor sujo. Não temos medo, queremos mesmo é ver o mundo pegar fogo.





Imagem: daqui.